Aquela sempre foi a minha grande companheira, não importava o momento: dias tristes ou alegres. Estava sempre lá sorrindo, diante de minha casa; parecia que estendia os braços a fim de me acariciar. A pela áspera e grossa retinha as lágrimas do céu, estas eram sempre de alegria e faziam com que minha amiga se tornasse ainda mais iluminada e sorridente, exalando um maravilhoso perfume cítrico.
Juntas, brincávamos dia e noite; eu corria ao redor dela como se fosse um pequeno pássaro, sentia-me livre, não tinha preocupações, era como se aquele mundo fosse meu. Confesso que, às vezes, brigávamos, a culpa, na verdade, era sempre minha, pois eu sabia que o corpo desajeitado da minha amiga não era de fácil controle, vivia na dependência do tempo.
Aos poucos, fomos tomadas pela distância, quanto mais o tempo passava, mais a escola me exigia; depois veio a faculdade, a fase adulta e a briga com o relógio. Durante esse afastamento - se é que posso dizer assim porque ela sempre esteve lá, em frente a minha casa - soube da sua grave doença: uma espécie rara de alergia a dominou por completo e a fez - pouco a pouco - perder a alegria, o sorriso.
Um dia ao chegar do trabalho, era véspera de Natal, percebi algo estranho: não a encontrei lá me esperando, havia falecido. Fiquei triste, chorei, voltei à infância e culpei-me pelo ocorrido: será que a morte foi devido ao meu afastamento? Ela sempre me esperava, mas o tempo possibilitava-me apenas um “oi” rápido e, muitas vezes, seco. Em frente a minha casa ela não está mais, porém, sinto minha companheira de travessuras dentro de mim, em meus pensamentos.
Cristiane Gonçalves Dagostim
Crônica premiada do Concurso Literário da Academia Criciumense de Letras
Menção Honrosa