Boa leitura!

Abra-se, sinta o cheirinho penetrar nas suas narinas e o abraço envolver o seu corpo. Respire fundo, não tenha medo!
Entre neste mundo que não é só meu, viaje comigo e deixe-se levar.

28 de outubro de 2010

Introspecção: sim ou não?


Era uma sala pequena, carteiras expostas uma ao lado da outra, uma atrás da outra, degrau por degrau. Dessa forma, o local ganhava um ar de auditório. Tudo bem que era simples, cheiro de mofo, cortinas quebrassol, chão de madeira encerada; mesmo assim, a quantidade de pessoas preenchia cada espaço e juntos formavam um grande auditório.

Não sei ao certo o que pensavam; eu, na verdade, apenas ouvia aquelas vozes que não se entendiam, não se compreendiam. Questionamentos, reflexões, questionamento, reflexões... tudo misturado ao murmurinho de grupinhos contentes ou descontentes. Alguns riam, outros cochichavam; alguns escutavam e outros estavam longe, assim como eu. Para mim, aquilo era inutilidade, falas que cansavam e, para o tempo passar, precisei por-me a escrever e fazer daquele um espaço agradável.

De repente, dei-me conta de que as vozes cessaram e que o ambiente estava mais calmo. Como? Por quê? Olhei para frente e vi o microfone nas mãos de outra pessoa. Sinal de respeito, de medo ou de cobrança? Não sei de nada, ou melhor, não quis saber. Continuei crendo que escrever seria o melhor. Assim, eu viajaria entre as palavras, sairia daquele espaço que me chateava, encontrar-me-ia com a imaginação e sentir-me-ia melhor.

Realmente me senti, o tempo começou a caminhar e o tal auditório foi ficando longe... longe... distante; até que cheguei dentro de mim e numa paz, encontrei-me com os meus sentimentos, brigando. Por quê? Digo-vos! Coisas me fazem repensar a vida, o seu sentido, fazem-me compreender a minha caminhada, o que me assusta e me corrói. Quem sou? O que fiz? O que quero? Tantas e tantas dúvidas que buscam uma única resposta, mas esta eu não a tenho. 

Fico horas dentro de mim mesma, até que uma mão toca o meu braço. Olho meio assustada e um belo sorriso me convida: “É hora do lanchinho, vamos?”. Ainda meio distante, mas voltando àquele espaço, baixo a cabeça, folheio as páginas escritas, guardo a lapiseira, fecho a agenda colocando-a na bolsa e sigo para uma nova sala, novamente pequena e repleta de gente e ali, coloco-me novamente a observar.     

Cristiane Gonçalves Dagostim
Texto encaminhado ao Concurso da Academia Criciumense de Letras - 2010
 

                                

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