Era um dia de festa. Confetes choviam pelos ares, pessoas iam e vinham vestidas em lindos trajes; alguns destes eram rendados, outros bordados, mas um em especial me chamou a atenção.
A roupa de Glória, da Glorinha da Vila do Conde, era realmente especial. Usava uma longa saia repleta de bordados feitos à mão, ponto a ponto traçado delicadamente e em um colorido que cintilava por onde passava. A cada cruzinha, podiam-se ver pedras delicadamente expostas ornando a peça, juntas brilhavam e deixavam as pessoas de boca aberta devido ao glamour da veste. A barra da saia possuía uma linda renda de bilro que me fez lembrar das festas na Corte do Rei Luís XIV. A mesma renda, agora com desenhos delicados, formava um lindo corselete que unido à saia, transforma-se no vestido de Glorinha. E que Glorinha!
O traje ainda era composto por luvas de cetim na cor vermelha com detalhes em pedras, sandálias altas, um leque luxuosíssimo e um maravilhoso chapéu. Realmente estava deslumbrante como sempre a vi, confesso que naquele dia estava ainda mais bonita. O corpo era esculpido por rendas, bordados, cetins. Apenas os pequenos pés e uma partezinha dos braços ficavam a mostra, isso mexia com o meu imaginário. Não era para pouco: de cintura fina e busto grande, dançava de forma graciosa, parecia envolvida em passos de ballet.
As festas na Corte sempre tinham um ar de mistério: mulheres belas, homens galantes, cavalheiros e damas dançando ao som de instrumentos musicais. Séculos se passaram, mudanças aconteceram, mas o enigma que envolve Glória ainda se faz presente.
Recatada, de muita expressão e poucas falas, portava-se com elegância e suavidade. Sempre estava envolta por homens que a bajulavam, tentavam conquistá-la: ou por quererem uma boneca de porcelana para ao lado desfilarem, ou por pensarem na riqueza da família da pretendente. Ela, sabedora de sua sedução, dividia o seu ar de mistério com todos, nunca dizia sim, mas também não dizia não. Aproveitava cada momento com muita educação e pouca ousadia.
Quem a olhava, via a sua frente um anjo de sorriso malicioso, o que me faz pensar na Gioconda. Esta, se foi tão encantadora quanto Glorinha, conseguiu enlouquecer até mesmo os mais respeitados homens da época. Confesso, estou fascinado por ela, enlouquecido, seduzido e divagando em meus devaneios. Se ao menos ela me olhasse como aquela vez o fez, mas não. Isso porque sou um simples contadino. Tenho certeza, porém, de que até hoje ela procura aquele homem que a beijou apaixonadamente no baile de máscaras e que a fez voar pelos ares pela primeira vez.
Cristiane Gonçalves Dagostim (01/09/2010)
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