Boa leitura!

Abra-se, sinta o cheirinho penetrar nas suas narinas e o abraço envolver o seu corpo. Respire fundo, não tenha medo!
Entre neste mundo que não é só meu, viaje comigo e deixe-se levar.

3 de setembro de 2010

O que é o tudo?


Que dia maluco! Dizer que pareceu um furacão não poderá ser considerada uma simples comparação porque desde o momento do primeiro soar do despertador, o agito do dia-a-dia ganhou passos descompassados.

De olhos abertos, mas ainda resmungando contra o tempo, enxergando ofuscadamente, levantei-me e fui na direção do espelho. Ouvi dizer em uma dessas tantas palestras que sorrir diante desse objeto refletor faz com que nosso dia melhore, o humor melhore. Tentei, sorri, dei-me bom dia, conversei comigo mesma: nada mudou.

Não teve jeito não. Arrumei-me como de costume, desci as escadas que dão acesso à porta de saída e, comendo uma maçã, segui em direção à escola. Trajeto curtíssimo, poucos minutos me separam do lar e do trabalho, disse-lhes poucos minutos. Hoje, no entanto, pareceram-me uma eternidade; tinha a sensação de que algo desagradável estava por acontecer.

Adentrei ao portão, a maçã já havia sumido, cumprimentei quem eu encontrava pelo caminho e segui à tradicional sala: das brincadeiras e das preocupações. Ali, organizei todo o necessário para prosseguir aquela manhã, dei minhas primeiras boas respiradas, como sempre faço, procurando purificar-me, sentir-me e limpar-me.

Assim que a música iniciou, segui pelo corredor, subi os degraus e fui conduzida até uma outra sala, esta nem tanto silenciosa, muito pelo contrário. De lá, junta a um grupo de cerca de 30 pessoas, dirigi-me a uma outra sala. Quanta sala! Quanto local! Quanta gente!

Murmurinhos, falas altas, primeiro chamado e primeira decepção. “Mexeram nos trabalhos, escreveram coisas horríveis, mexeram... mexeram...” Durante alguns minutos, permaneci em silêncio: “O que fazer?”, perguntava a mim mesma. Sem resposta, mas com noção da problemática, tentei apagar o que ouvira para finalizar bem a minha manhã.

Mudanças de grupos, diferente atividade e segundo chamado. “O que será agora?”, pensei. Quando olhei a expressão dos meus colegas, um sentimento tomou-me por completo, não sei explicar ao certo do que: se raiva ou indignação, se era sentimento de culpa ou revolta interior. Fizemos tudo certinho, seguimos o planejado, acompanhei todos os trabalhos, mas faltou uma coisa: acompanhar o tudo.

O que é o tudo, como dar conta dele? O que fazer e explicar àqueles que se empenharam, pesquisaram, discutiram, digitaram, organizaram? Não sei não! Não quero ser clichê, mas um balde de água friíssima foi despejado sobre o meu corpo. Passei a amanhã pensativa, pensando em mim, a respeito de mim, a respeito da vida, da minha vida: “Será que vale a pena insistir quando muitos não querem?”, “Será que vale a pena cobrar quando esta cobrança é vista negativamente?”, “Será que vale a pena continuar?”.

Confesso, pensei em desistir. Não me entenda mal, não estou falando de suicídio, nada disso. A minha desistência se refere ao ato de não ser mais eu, mas me refugiar na criação de uma máscara: boazinha, tudo aceita, nada cobra, tanto faz, tudo muito bom, tudo perfeito e maravilhoso. Com esses pensamentos segui meu dia.

Finalizei a manhã, segui à tarde em pé de guerra comigo mesma: dirigir durante uma hora, entre carros e caminhões, para assistir a algo que me desanimava, hoje foi pior ainda. Sobrevive! Talvez porque pensava na noite, nos meus grandinhos, nos meus colegas que sempre me fazem rir. Antes de ir para lá, um banho relaxante, uma troca de roupa, a mudança de energia foi fundamental. Entre conversas e conversas, um pedido de socorro: “Preciso conversar, vamos dar uma volta depois!”. Pedido atendido. A noite correu tranquila, diverti-me com o grupo noturno, saí feliz daquela sala. Em seguida, fui ao encontro de um ombro “amiga” e de um bom papo para descontrair.

Conversamos muito, fofocamos muito, saí do mundinho de preocupações e transportei-me para um mundo que, infelizmente, ainda não é meu. Eu bem que o queria: sossego, longe de carros e barulhos, sentindo a brisa da praia, acordando com o nascer do sol, deitando e rolando na grama, andando descalço, tendo meus finais de semana, meus feriados, minha vida social. O tudo voltou a este texto, o meu tudo o trabalho tirou, o meu tudo está se esvaecendo. Eu, no entanto, continuo aqui me sentindo amarrada, sem saber que decisão tomar, sem saber o que fazer.

Cristiane Gonçalves Dagostim (03/09/2010)

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