Olhos de bolotas que
encontram um príncipe encantado
Era uma vez... Não via a hora de chegar
aquele momento, de colocar o maravilhoso vestido e, de gata borralheira,
transformar-me na princesa dos olhos de bolotas azuis.
Logo no início da tarde, os preparativos
começaram: brinco, anel e pulseira separados; sapatos e vestido a postos; unhas
e cabelos arrumados... Enfim, tudo organizado para a serata.
Parecia que aquele dia estava me dizendo
que algo maravilhoso mudaria a minha história. Mesmo assim, não dei importância
ao que sentia, afinal, até então estava tudo monótono, tudo do mesmo jeitinho.
Final de tarde, arrumei-me e segui para o
local do jantar. A noite estava tristonha, ou melhor, havia chovido e as
estrelas não queriam brilhar, escondiam-se entre as nuvens. Era um clima
nostálgico, de reflexão, de situação.
Diante do salão, encontrei as minhas
companheiras reais, cumprimentamo-nos e nos colocamos a recepcionar os
convidados. Cada qual trazia em seu semblante um sorriso e um ar de “que bom
estar aqui”. Dessa forma, aquela noite chatinha foi ganhando ares de alegria e
encantamento. O friozinho inicial deu espaço a um calor que não permitia que
rainha e princesas permanecessem o tempo todo no salão devido à quantidade de
panos do vestido.
E assim ficamos: “Buona sera”, “Boa
noite”, “Come stai”... E entre uma conversa e um sorriso, alguém me chamou a
atenção, porém, fiquei na minha, fiz de conta que nada era nada. Até que o
jantar começou a ser servido e nós, da realeza, não sabíamos o que fazer.
Diante da mesa onde estávamos, os
familiares de uma das princesas se encontravam e para eles questionamos: “Será
que podemos jantar?”. E um menino, sorrindo – que nunca tinha visto em nenhum
dos eventos... um príncipe vestindo preto, usando óculos – olhou-me e disse:
“Princesas são jantam, vivem de sorriso!”. Foi o que bastou para me chamar
ainda mais a atenção e o ambiente ser invadido por sensações estranhas, porém,
muito boas.
A noite seguiu, jantamos sim,
divertimo-nos e confesso que trocas de olhares aconteceram, de uma forma um
pouco disfarçada. Algo parecia mais forte do que eu, algo realmente me
contagiava. E, pertinho do príncipe estava a minha família e a família dele,
assim, podíamos ficar próximos... Talvez coisa do destino, talvez quisesse que
nos conhecêssemos.
Após o jantar e as brincadeiras com as
crianças, fui à rua pegar um arzinho. Encostada ao ferro de apoio da escada,
conversando com o povo real, de repente veio ao nosso encontro o príncipe
loiro, de olhos azuis, porém sem seu cavalo branco, também não era necessário.
Simpático, sorridente, pôs-se a conversar conosco.
A conversa foi interrompida, eu acho que
pelas brincadeiras das crianças que ali estavam e que nos entregavam pequenas
flores. Uma delas – não sei o porquê – transformou-se em uma verdadeira
jornalista, perguntando-me sobre a minha vida: onde morava, o que fazia,
quantos anos tinha... Para o príncipe, quem sabe, foi algo conveniente porque,
dessa forma, não precisaria perguntar, perguntavam por ele.
Não ficamos muito tempo conversando não,
em seguida, começou a brincadeira: hora do bingo, hora da entrega dos prêmios,
hora de voltar à realidade e colocar os pés ao chão. Compreender que para uma
história iniciar, outras situações precisariam ser pensadas e repensadas,
decisões precisariam ser tomadas para que não houvesse mágoas e nem ressentimentos.
Assim aconteceu... Dias se passaram, mas
a princesa não conseguiu esquecer o príncipe sem cavalo branco, a princesa não
conseguiu mais não pensar no príncipe sem cavalo branco... a princesa passou a pensar no
príncipe sem cavalo branco a todo o momento.
Entre pensamentos e pensamentos, uma
velha história foi rompida, uma nova história iniciada. Uma história em que a
princesa dos olhos de bolotas e o príncipe sem cavalo branco viverão felizes
para sempre, alegrando o reino sempre encantado.
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