Aquele era o caminho por onde ele sempre passava. De cabeça baixa, passos curtos, braços soltos e com o estilo de sempre: calça (social ou jeans), camisa manga longa e sapato. Quando encontrava alguém pelo caminho, olhava rapidamente, sem fixar muito o olhar, sorria e seguia em frente.
Sempre de poucas palavras, ou melhor, sem palavras. O sorriso era a fala, os gestos eram as falas. Em momentos de descontração, até que dizia duas ou três palavras e se alguém lhe perguntasse: “aconteceu algo hoje?”, a resposta era sempre a mesma: “é muito trabalho”.
Se o excesso de trabalho e a correria o faziam bem, pelo menos era isso que as pessoas sentiam, por que não mergulhava neste mundo do estresse? Talvez fosse um questionamento que todos os seus colegas se faziam, mas que ele nem se dava ao trabalho de pensar. A vida dele era diferente, tinha um outro dinamismo.
Em casa, toda a manhã era destinada ao descanso. Respirava o ar puro, ficava longe de tudo e de todos, longe do barulho dos carros e da correria da cidade. Após o almoço, era hora de pensar no trabalho, delimitar objetivos, ações, meta a cumprir... sorrisos a dar. Lá, permanecia por oito horas, sentado no local de sempre, do jeito de sempre.
A sua frente, um computador, este era a ferramenta essencial no seu dia-a-dia; ao lado direito, uma xícara de chá; ao lado esquerdo, papéis, documentos e mais papéis. Aos poucos, pessoas iam chegando e entravam naquela pequena sala. Por lá, permaneciam não mais de cinco minutos: poucas falas e dizeres objetivos.
Assim seguia dia após dia. Não demonstrava preocupação, muito pelo contrário: tranquilidade era a palavra que podia sempre ser lida no seu semblante. Isso gerava inveja boa de alguns, falatórios de outros “é muito sério”, “não abre a boca”, “não dá abertura para nada”. Mesmo discreto, encantava; mesmo discreto chamava a atenção.
Cristiane Gonçalves Dagostim (31/08/2010)