Boa leitura!

Abra-se, sinta o cheirinho penetrar nas suas narinas e o abraço envolver o seu corpo. Respire fundo, não tenha medo!
Entre neste mundo que não é só meu, viaje comigo e deixe-se levar.

31 de agosto de 2010

Discrição que qualifica


Aquele era o caminho por onde ele sempre passava. De cabeça baixa, passos curtos, braços soltos e com o estilo de sempre: calça (social ou jeans), camisa manga longa e sapato. Quando encontrava alguém pelo caminho, olhava rapidamente, sem fixar muito o olhar, sorria e seguia em frente.

Sempre de poucas palavras, ou melhor, sem palavras. O sorriso era a fala, os gestos eram as falas. Em momentos de descontração, até que dizia duas ou três palavras e se alguém lhe perguntasse: “aconteceu algo hoje?”, a resposta era sempre a mesma: “é muito trabalho”.

Se o excesso de trabalho e a correria o faziam bem, pelo menos era isso que as pessoas sentiam, por que não mergulhava neste mundo do estresse? Talvez fosse um questionamento que todos os seus colegas se faziam, mas que ele nem se dava ao trabalho de pensar. A vida dele era diferente, tinha um outro dinamismo.

Em casa, toda a manhã era destinada ao descanso. Respirava o ar puro, ficava longe de tudo e de todos, longe do barulho dos carros e da correria da cidade. Após o almoço, era hora de pensar no trabalho, delimitar objetivos, ações, meta a cumprir... sorrisos a dar. Lá, permanecia por oito horas, sentado no local de sempre, do jeito de sempre.

A sua frente, um computador, este era a ferramenta essencial no seu dia-a-dia; ao lado direito, uma xícara de chá; ao lado esquerdo, papéis, documentos e mais papéis. Aos poucos, pessoas iam chegando e entravam naquela pequena sala. Por lá, permaneciam não mais de cinco minutos: poucas falas e dizeres objetivos.

Assim seguia dia após dia. Não demonstrava preocupação, muito pelo contrário: tranquilidade era a palavra que podia sempre ser lida no seu semblante. Isso gerava inveja boa de alguns, falatórios de outros “é muito sério”, “não abre a boca”, “não dá abertura para nada”. Mesmo discreto, encantava; mesmo discreto chamava a atenção.

Cristiane Gonçalves Dagostim (31/08/2010)

27 de agosto de 2010

Lembranças que voltaram



Como se nada mais existisse ali, ao caminhar entre os cômodos repletos de poeira e cheirando à ambiente fechado, deparei-me com a penteadeira de meu antigo quarto. Estava ali, na mesma posição de sempre, entre a janela e uma das paredes. Meu coração parou de imediato e fui transportada para um tempo distante e de grande felicidade.

- Cida, vamos rápido! Iremos nos atrasar!

- Mãe, ainda falta muito tempo. Estou retocando o batom.

Ao descer cada degrau, meu pai sorriu e conduziu-me até o carro que me esperava à porta. A noite estava estrelada como nunca a tinha visto, o clima agradável fazia meu peito acelerar. Não sei lhe dizer se era nervosismo, medo, alegria; sei apenas que a cada rua aonde o carro ia sendo guiado, eu procurava registrar na minha memória cada detalhe.

- Cida, o que houve?

- Nada não, estava aqui relembrando... deixa pra lá!

- Então, venderá a casa?

A minha casa foi ficando distante e, aos poucos, o desfecho de todo aquele preparativo ia chegando, não foi à toa que quando o carro parou, minhas mãos começaram a tremer e as pernas ficaram bambas. Uma suave música começou a ser tocada, eu a escutava baixinho, penetrava em meu corpo fazendo-me caminhar como se estivesse flutuando.

Passo a passo fui sendo levada, guiada por meu pai. Diante de mim, alguém muito especial me esperava, estava lindo, sorrindo e com os olhos brilhantes como diamantes. Lentamente, segurou em minhas mãos e juntos nos ajoelhamos diante do altar. Abençoados fomos, felizes também.

- Mãe, você está bem? Escutou o que eu lhe perguntei?

- O Tito está falando com você dona Cida!

Sair da minha casa, ir viver a minha própria vida, construir a minha família assustou-me no início. A troca de cidade, devido ao trabalho do meu marido, fez com que eu me afastasse – e muito – da minha casa da infância. A saudade de meus pais era amenizada com os poucos telefonemas que trocávamos, com as cartas trocadas, com as notícias cruzadas.

Até que aos poucos, fui perdendo parte de mim. Primeiro meu pai que, durante uma pelada com os amigos, teve um infarto fulminante. Contaram-me que não deu tempo de nada, de palavra alguma. Minha mãe, não suportando tamanha solidão, caiu de cama. Auxiliada por uma vizinha, viveu assim por quase um ano, até que faleceu. E a casa, ali naquele bairro, naquela cidade distante, foi ficando. Meus filhos foram nascendo, crescendo...

Na semana passada, o Tito conversou comigo que estava planejando se casar e que queria comprar uma casa, a minha casa, a casa dos meus pais. Sua noiva nunca esteve lá, apenas ele na época de criança, durante as férias, quando eu e meu marido o colocávamos no ônibus e ele partia com um grande sorriso. Dizia-nos sempre: “Lá é que se é feliz!”.

- Então mãe? A casa é minha?

-Desculpe-me filho. Estava aqui olhando a penteadeira e recordando-me da minha infância. Veja só, eu não tinha essas rugas, esse cabelo branco... Aqui fui muito feliz.

Saí daquele quarto acompanhada por Tito e Rebeca, descemos cada degrau, seguimos até a sala. Lá, diante do autorretrato de meus pais, dei-lhes a casa como presente de casamento e pedi que fizessem daquele local um ambiente de muita felicidade e alegria. Meu marido, que Deus o tenha, parece que assistia a tudo aquilo, senti-me tocada por suas mãos, colhida em seus abraços. Um arrepiou me tomou por completo, sei que juntos ficaremos, depois de tanto tempo voltarei a morar na casa da minha infância na companhia de uma outra parte de minha família.

(Cristiane Gonçalves Dagostim: 27 ago. 2010)

22 de agosto de 2010

Filhos da seca

Rosto queimado, maltratado
Pernas finas de tanto andá
Voz rouca de bicho-do-mato
Palavras pequenas pra expressar.


Mãos calejadas, vida tão dura
Roupas rasgadas, não posso comprá
Patrão salafrário não dá nem sossego
Pobres de nós que ocupamos este lugar.


A seca está brava, o gado sumiu
Meus filhos doentes se usam do rio
O compadre morreu, não vamos enterrá
A terra está dura, não dá pra cavá.


A barriga ronca pedindo comida
Só nos resta as plantas secas que têm por aqui
Meu cachorro já foi pra panela
E o passarinho espera a vez de entrá dentro dela


Olhos brilhantes, pretos e gigantes
De tanta pobreza envelheceram
A pele morena e esticada
Se enrugou não sei o porquê.


Pobres da seca deste Nordeste
Vivemos aqui pra de algum modo morrê,
A água nos falta, comida não tem
A terra é dura, a que podemos fazê?


A vida é pobre de eterna fadiga
É uma luta em constante agonia
Nos esqueceram e massacraram
Pobres de nós, filhos da seca.

Minhas estórias


Fogo latente
Que no peito incendeia
Dor permanente
Carregada com amor
Versos tristonhos
Que aos poucos se animam
Formando a história
Que um dia reinou.

Meus amigos


Em pequenas brigas
Beijos ardentes
Coração fumegante
Rostos rosados
Olhos brilhantes
Casal grande amigo
Guardo lembranças.

Pensamento

Tudo na vida é maravilhoso
Às vezes, nos sentimos arrasados
Por fatos ocorridos
Coisas do momento

Tudo é tão remoto
Que acaba certo dia
Como se nunca existiu

Quando estamos com
A áurea vibrante
Não existe ninguém no mundo
Que nos segurará
A felicidade toma conta
Do nosso ser
E acabamos não ligando
Para nada

Amizade

É triste
Uma simbólica amizade
Fazer como o sol e a lua
Avisaram-me
Só que fui boba em pensar
Que nada aconteceria


É,
Dessa vez foi arrepiante
Ao menos o sol honra a lua
Não deixando seu brilho lunar
Apagar


Essa vez foi pesada
Matou-me
Feriu-me
Quebrou-me


Não,
Eu não podia estar vendo
Será que meus olhos
Me enganam?


Não,
Não me enganam
Não era sonho
Muito menos miragem


Era sim
O rompimento de uma amizade
Que por mais simples que foi
Merecia dignidade!

Rio Criciúma

Foto: Caio Marcelo

Rio Criciúma
Precisas de socorro
Por ti corre uma água
Que agora é esgoto
Não tens beleza
Poderias ser limpo
Carregar o nome de nossa cidade
Com grande prestígio
Devemos lutar por tua saúde
Trazendo novamente
A tua e a nossa riqueza.

Flores

Cheiro suave
Aroma agradável
Perfume gostoso
Enlouquecedor
Desatina-me
Deixa-me maluca
Sintoniza a estação
Na rádio do amor.

Trabalho

Trenzinho
Café - com - pão
Como o relógio
Tic-tac
Que desperta na manhã
Acorda-me para o trabalho
Levando a rotina
De uma nova exatidão

Você

Altura: 1,74
Peso: não sei
Olhos: castanhos
Cabelos também
Signo: o mesmo
Que me falasse
Numa hora ingrata
De discussão
Olhei para o alto
E vi uma estrela
Ela continha
A nossa exaltação.

Permanência

Ando em retirada
Colho belas flores
Canto com os pássaros
Sonho com amores.


Ouso grandes vozes
Calo com o silêncio
Sinto o orvalho
Permaneço nos sentimentos.

Um coração que não para

Quem sabe a vida é assim
Hoje estamos longe
Na solitude de estrelas lusitanas
Vivendo comumente
Em passos eternos.


Um dia a união dos astros
Poderá nos unir e assim
Celebraremos com glória
Aquele tido e maldito passado.












Saberás do desejo ainda presente
Neste tecido ainda liso
Petrificado pela adrenalina
Fluorescente em cada detalhe.

Vivo por mim, por ti
Por nós, mas muito mais
Por este amor que (em)chama
Meu corpo de pura saudade.

Como foi


Como foi bom te encontrar
Rever-te e tua presença sentir

Como foi bom aprender a te conhecer
E voltar a sorrir

Como foi

Assim é
Não sei
Talvez
Quem sabe
 
Imagine

Se sim
Se não

Como foi?

Tudo foi em vão


Foi tudo tão de repente
Num momento pareceu um sonho
Mas tínhamos que ser fortes
Para ver com os próprios olhos
O que a brutalidade do homem causou.

Para nós foi uma perda
Para Deus uma vitória
Pois enquanto celebramos sua partida
Deus o recebe de braços abertos
Celebrando a sua chegada.


Era nosso amigo, nosso irmão
Era aquele que aprendemos a amar
Se quer guardamos recordações tristes
Da capoeira fazia uma dança
Do futebol um esporte
Do Garfield uma brincadeira


E de seu pai...
Há! Seu pai!
Contava-nos as mais engraçadas piadas
Fazia-nos sorrir
E sua presença era fundamental
Contagiava-nos com um simples
Sorriso
Com sua presença.


Hoje sua presença
Não se faz entre nós
Mas seu carisma
A lembrança
Andam lado a lado
Em um cantinho especial em nossos corações.


Ao colega Cleber Luis Conti – 1999

Como te esquecer?

Tentar te esquecer
É um tema que eu
Quero por em prática.
Será que não existe
Uma mágica
Para eu conseguir
Amanhã te esquecer?

Sonho?

Tudo parecia um sonho
Só que o amanhã chegou
E trouxe muitas turbulências

Não pensei jamais
Que eu viesse a lhe falar

O pior foi torna-me sua amiga
Não posso dizer que gostei
Pois não lhe quero como este
Que me enlaçou aos sentimentos
          Carinho, Paixão...


Você
Que muito me mostrou
Soube de certa forma
Ensinar-me palavras e sentimentos
Que não conseguiu
Com os lábios transmitir

Fez-me sentir mulher
Roubou um pouquinho da criança
Que existia em mim.


Você
Que um dia eu amei
Mas que com o passar do tempo
Trouxe-me muitas tristezas...


Você
Que nunca consegui esquecer
Arrancou-me um pedaço
Me fez morrer!

Meu... teu... nosso...


Nada no mundo podemos
Dizer que é nosso,
Que somos nós quem possuímos,
Este verbo é apenas fruto de nosso cérebro,
Ninguém é dono de nada,
Muito menos de alguém.
Sejamos ao menos capazes
De dizer “eu tenho”
Este verbo ao contrário,
É mais suave,
Soa como o cantar dos pássaros,
Na época de primavera.


Mas lembrando
Que ninguém possui ninguém.

Formatura



A chegada foi incrível
Tudo estava maravilhoso
O coração estava em festa
A igreja estava, sei lá
Só sei que havia pessoas em pé
A comentarista dando seu discurso

O padre... Há! O padre!
Com suas belas frases
Repetia sobre a dor de se formar
E não possuir emprego
Mas tudo foi em vão

Um fim trágico
Você sequer o escutou
Tudo devido a um inconstante acidente

Estava deslumbrante
Aparência assustada
Embalado por apenas uma circunstância

Minha inspiração

Você
Foi e será
Minha vida.


Você
Foi e será
Minha inspiração.


Escrevo
Porque conheci
Você.


E por isso
Agradeço-lhe
De coração!

Sonho...


Sonho porque sonhando eu deixo a alma viver
     O corpo vibrar
            A luz se acender 
                  A vida de certa maneira enlouquecer

E tudo que é amor transbordar
Com grande luz e sabedoria
Deixando o meu corpo flutuar.

Escrever por prazer















Escrevo porque gosto
É questão de puro prazer
As palavras surgem lentamente
E em diversas ocasiões
Não paro para escrever
Tudo é instintivo
Basta apenas caneta, papel
E um cantinho bem calmo
De preferência meu quarto e a sala de aula
Meu primeiro prêmio como literata foi bem interessante
Ocorreu no ano de 2000 pela Academia Criciumense de Letras
Eu estava sozinha em casa
Quando a secretária do colégio onde eu estudava
Me telefonou avisando da premiação
Num instante não acreditei muito
Até que recebi outros telefonemas
Daí em diante, não parei mais
O gosto por escrever vem de muitos anos
Eu era apenas uma garotinha
No colégio, era tudo uma brincadeira
Principalmente no recreio
Trocas de cartinhas,
Poemas montados em conjunto (...)
Pena que esse poemas não foram arquivados
Mas, trago tudo isso na lembrança
Como se fosse ontem!