Boa leitura!

Abra-se, sinta o cheirinho penetrar nas suas narinas e o abraço envolver o seu corpo. Respire fundo, não tenha medo!
Entre neste mundo que não é só meu, viaje comigo e deixe-se levar.

25 de setembro de 2010

Uma história clichê

Era uma vez uma moça...

--- Por favor, abra a porta!

Foi assim que a história começou, início de contos de fadas, uma história surpreendente, mas ficcional e que mexeu com Lipe.

Ao ouvir aquela voz delicada, o rapaz se levantou da poltrona e se dirigiu à porta. Ao abri-la, junto ao sopro daquele vento de inverno, entrou Luci, a dona da tal voz. Batia os dentes e tremia muito, estava branca como um fantasma e não conseguia ficar parada devido à tremedeira em seu corpo.
Após verificar o sinal feito por Lipe, ela caminhou apressadamente até o interior da sala, sentou-se em uma das poltronas e procurou se aquecer com as almofadas. Enquanto isso, sem dizer uma só palavra, o rapaz foi até o quarto de onde trouxe um cobertor para cobrir Luci.
Entre eles, minutos de silêncio e análises por meio dos olhares. Respiros ofegantes e uma sensação de conforto. Aos poucos, a garota parou de tremer; mais calma, agradeceu-lhe por deixá-la entrar.
Luci morava na rua, aquela noite, porém, estava muito fria, além disso, a chuva não queria ir embora. Cansada, com frio e fugindo de uma hipotermia, bateu à porta de Lipe em busca de socorro. Não sabia ela, que o fato se transformaria não só em uma simples ajuda, mas em um grande amor. Clichê, não?

Não é à toa que esta história teve início de contos de fadas.

E para continuar, Lipe se apaixonou por Luci, eles viveram uma linda história de amor e felizes para sempre.

Cristiane Gonçalves Dagostim: 25/09/2010

14 de setembro de 2010

Aprender sempre


Eu o vi correr entre as árvores daquele jardim maravilhoso, escondia-se entre a vegetação e reaparecia como um raio, o que me fazia sorrir. Ficamos lá, no meio de toda aquela natureza, curtindo minuto a minuto e registrando tudo em nossas memórias.

No centro daquele parque, um lago mágico; nele havia cisnes branquíssimos que pareciam flutuar na água. Tartarugas grandes e pequenas também enfeitavam o local e, com calma e tranquilidade, nadavam de um lado ao outro.

Ficar contemplando a natureza, sentir o barulho dos pássaros em orquestra, o perfume das plantas e a presença de alguém tão importante ao meu lado, fizeram-me pensar na vida, na nossa passagem pela vida.

Somos tão egoístas que reclamamos de pequenos acontecimentos, no entanto, aqueles mágicos e encantadores permanecem apenas em fotografias, na gaveta de um cômodo qualquer ou ainda dentro de um computador.

Esse dia mágico, que o vi correr e escutei as nossas respirações cruzarem, quero guardar como um abraço carinhoso que me acaricia, que me traz de volta à realidade, mostrando-me como a vida vale a pena. Cada problema, por maior que pareça, é apenas fermento no nosso caminhar, é a certeza de que estamos vivos e de que temos muito a aprender.

Cristiane Gonçalves Dagostim (14/09/2010)


8 de setembro de 2010

Qual é o lugar da razão?


Teresa acordou sorrindo e cantando, estava bem diferente do dia anterior, talvez o sonho tenha sido um bom remédio. Após se arrumar e beber um bom café, telefonou para Carol. Minutos ao telefone jogando conversa fora e um convite: sorvete!

Encontraram-se em uma sorveteria do bairro, as garotas eram vizinhas. Lá, novamente conversaram muito, deram gargalhadas e divertiram-se enquanto saboreavam as guloseimas do local. Realmente, Teresa estava diferente, havia esquecido as brigas com Renato (quem sabe o próprio Renato) e estava aproveitando aquele momento ao lado da amiga.

Quando o sorvete acabou, decidiram voltar para casa a fim de se prepararem para a noite: festa de Lurdinha. Teresa já havia separado roupas e acessórios, estava tudo organizado, mas havia um problema: estava sem par. Sem se preocupar com aquilo, dormiu por um bom tempo para assim aproveitar ao máximo a festa. Ao acordar, novo banho, nova troca de roupa, novo clima, novo tudo (se bobear, até novo namorado).

Arrumada e maquiada, seguiu até a casa de Carol e de lá, não se sentindo nem um pouco “vela”, partiram para o clube. Os três se sentaram em uma mesa central que, aos poucos, recebeu outras pessoas, todas conhecidas de Teresa. Entre elas, estava Pedro que também era conhecido de Renato, mas apenas conhecido, um tinha ódio mortal do outro. Motivo? Teresa, óbvio.

Ela, como estava sozinha, aproveitou a festa. Dançou muito com Pedro, este era bem diferente de seu ex: garotão, alegre, sempre alto-astral, feliz e, ainda por cima, dançava como ninguém. Apenas dançaram, trocaram olhares, falaram pouco e, em uma dessas conversas...

--- Por que você não investe na Ana?

--- Você sabe muito bem quem eu quero.

A resposta fez Teresa respirar fundo. Na mesma festa, ao longe, Renato a observava discretamente, não queria magoá-lo. O término do namoro era recente, não sabia se teria volta ou não, ela não poderia arriscar. Simplesmente sorriu, não disse palavra alguma, continuaram a dançar, sempre separados, um ao lado do outro. Os estilos musicais variavam constantemente até que um forró pôde ser ouvido.

--- Dança comigo?

--- Não. Aqui não.

--- Poxa, só uma! Vai dizer que não dançará nenhuma música comigo?!

--- Local errado!

Com a fala de Teresa, Pedro entendeu o motivo e não insistiu mais. Procurou sair de perto dela para não causar confusão e estragar com a festa de Lurdinha. Ela, com o coração e a razão brigando, continuou ali por mais algum tempo até que achou melhor ir embora.

Dias depois, ao abrir o e-mail, uma mensagem de Pedro a chamou muito a atenção: “Boa noite, Teresa! Como você está? Ah, ontem você brincou, né? Abraço e até...”. Ao terminar de ler, Teresa ficou sem reação e pôs-se a pensar: “Não brinquei. Nunca falei nada. Aproveitei a noite e não queria magoar ninguém...”. Algo ficou martelando na cabeça dela: o que significava o tal “até” seguido de reticências?

Claro que Teresa chegou a responder o e-mail, coisa que até então não tinha feito. Se a resposta dela foi suficiente para Pedro ou não, nem ela sabe. Hoje, ela está novamente ao lado de Renato, feliz com Renato, gosta do Renato. Tem aqueles momentos de bobeira, do mundo vai acabar amanhã, do é preciso se divertir e curtir a vida. Posso dar a minha opinião? Concordo com ela, devemos sim aproveitar a vida, vivê-la intensamente, mas dentro de certos limites, certas condutas e com respeito.

3 de setembro de 2010

O que é o tudo?


Que dia maluco! Dizer que pareceu um furacão não poderá ser considerada uma simples comparação porque desde o momento do primeiro soar do despertador, o agito do dia-a-dia ganhou passos descompassados.

De olhos abertos, mas ainda resmungando contra o tempo, enxergando ofuscadamente, levantei-me e fui na direção do espelho. Ouvi dizer em uma dessas tantas palestras que sorrir diante desse objeto refletor faz com que nosso dia melhore, o humor melhore. Tentei, sorri, dei-me bom dia, conversei comigo mesma: nada mudou.

Não teve jeito não. Arrumei-me como de costume, desci as escadas que dão acesso à porta de saída e, comendo uma maçã, segui em direção à escola. Trajeto curtíssimo, poucos minutos me separam do lar e do trabalho, disse-lhes poucos minutos. Hoje, no entanto, pareceram-me uma eternidade; tinha a sensação de que algo desagradável estava por acontecer.

Adentrei ao portão, a maçã já havia sumido, cumprimentei quem eu encontrava pelo caminho e segui à tradicional sala: das brincadeiras e das preocupações. Ali, organizei todo o necessário para prosseguir aquela manhã, dei minhas primeiras boas respiradas, como sempre faço, procurando purificar-me, sentir-me e limpar-me.

Assim que a música iniciou, segui pelo corredor, subi os degraus e fui conduzida até uma outra sala, esta nem tanto silenciosa, muito pelo contrário. De lá, junta a um grupo de cerca de 30 pessoas, dirigi-me a uma outra sala. Quanta sala! Quanto local! Quanta gente!

Murmurinhos, falas altas, primeiro chamado e primeira decepção. “Mexeram nos trabalhos, escreveram coisas horríveis, mexeram... mexeram...” Durante alguns minutos, permaneci em silêncio: “O que fazer?”, perguntava a mim mesma. Sem resposta, mas com noção da problemática, tentei apagar o que ouvira para finalizar bem a minha manhã.

Mudanças de grupos, diferente atividade e segundo chamado. “O que será agora?”, pensei. Quando olhei a expressão dos meus colegas, um sentimento tomou-me por completo, não sei explicar ao certo do que: se raiva ou indignação, se era sentimento de culpa ou revolta interior. Fizemos tudo certinho, seguimos o planejado, acompanhei todos os trabalhos, mas faltou uma coisa: acompanhar o tudo.

O que é o tudo, como dar conta dele? O que fazer e explicar àqueles que se empenharam, pesquisaram, discutiram, digitaram, organizaram? Não sei não! Não quero ser clichê, mas um balde de água friíssima foi despejado sobre o meu corpo. Passei a amanhã pensativa, pensando em mim, a respeito de mim, a respeito da vida, da minha vida: “Será que vale a pena insistir quando muitos não querem?”, “Será que vale a pena cobrar quando esta cobrança é vista negativamente?”, “Será que vale a pena continuar?”.

Confesso, pensei em desistir. Não me entenda mal, não estou falando de suicídio, nada disso. A minha desistência se refere ao ato de não ser mais eu, mas me refugiar na criação de uma máscara: boazinha, tudo aceita, nada cobra, tanto faz, tudo muito bom, tudo perfeito e maravilhoso. Com esses pensamentos segui meu dia.

Finalizei a manhã, segui à tarde em pé de guerra comigo mesma: dirigir durante uma hora, entre carros e caminhões, para assistir a algo que me desanimava, hoje foi pior ainda. Sobrevive! Talvez porque pensava na noite, nos meus grandinhos, nos meus colegas que sempre me fazem rir. Antes de ir para lá, um banho relaxante, uma troca de roupa, a mudança de energia foi fundamental. Entre conversas e conversas, um pedido de socorro: “Preciso conversar, vamos dar uma volta depois!”. Pedido atendido. A noite correu tranquila, diverti-me com o grupo noturno, saí feliz daquela sala. Em seguida, fui ao encontro de um ombro “amiga” e de um bom papo para descontrair.

Conversamos muito, fofocamos muito, saí do mundinho de preocupações e transportei-me para um mundo que, infelizmente, ainda não é meu. Eu bem que o queria: sossego, longe de carros e barulhos, sentindo a brisa da praia, acordando com o nascer do sol, deitando e rolando na grama, andando descalço, tendo meus finais de semana, meus feriados, minha vida social. O tudo voltou a este texto, o meu tudo o trabalho tirou, o meu tudo está se esvaecendo. Eu, no entanto, continuo aqui me sentindo amarrada, sem saber que decisão tomar, sem saber o que fazer.

Cristiane Gonçalves Dagostim (03/09/2010)

1 de setembro de 2010

Somente com máscara


Era um dia de festa. Confetes choviam pelos ares, pessoas iam e vinham vestidas em lindos trajes; alguns destes eram rendados, outros bordados, mas um em especial me chamou a atenção.

A roupa de Glória, da Glorinha da Vila do Conde, era realmente especial. Usava uma longa saia repleta de bordados feitos à mão, ponto a ponto traçado delicadamente e em um colorido que cintilava por onde passava. A cada cruzinha, podiam-se ver pedras delicadamente expostas ornando a peça, juntas brilhavam e deixavam as pessoas de boca aberta devido ao glamour da veste. A barra da saia possuía uma linda renda de bilro que me fez lembrar das festas na Corte do Rei Luís XIV. A mesma renda, agora com desenhos delicados, formava um lindo corselete que unido à saia, transforma-se no vestido de Glorinha. E que Glorinha!

O traje ainda era composto por luvas de cetim na cor vermelha com detalhes em pedras, sandálias altas, um leque luxuosíssimo e um maravilhoso chapéu. Realmente estava deslumbrante como sempre a vi, confesso que naquele dia estava ainda mais bonita. O corpo era esculpido por rendas, bordados, cetins. Apenas os pequenos pés e uma partezinha dos braços ficavam a mostra, isso mexia com o meu imaginário. Não era para pouco: de cintura fina e busto grande, dançava de forma graciosa, parecia envolvida em passos de ballet.

As festas na Corte sempre tinham um ar de mistério: mulheres belas, homens galantes, cavalheiros e damas dançando ao som de instrumentos musicais. Séculos se passaram, mudanças aconteceram, mas o enigma que envolve Glória ainda se faz presente.

Recatada, de muita expressão e poucas falas, portava-se com elegância e suavidade. Sempre estava envolta por homens que a bajulavam, tentavam conquistá-la: ou por quererem uma boneca de porcelana para ao lado desfilarem, ou por pensarem na riqueza da família da pretendente. Ela, sabedora de sua sedução, dividia o seu ar de mistério com todos, nunca dizia sim, mas também não dizia não. Aproveitava cada momento com muita educação e pouca ousadia.

Quem a olhava, via a sua frente um anjo de sorriso malicioso, o que me faz pensar na Gioconda. Esta, se foi tão encantadora quanto Glorinha, conseguiu enlouquecer até mesmo os mais respeitados homens da época. Confesso, estou fascinado por ela, enlouquecido, seduzido e divagando em meus devaneios. Se ao menos ela me olhasse como aquela vez o fez, mas não. Isso porque sou um simples contadino. Tenho certeza, porém, de que até hoje ela procura aquele homem que a beijou apaixonadamente no baile de máscaras e que a fez voar pelos ares pela primeira vez.

Cristiane Gonçalves Dagostim (01/09/2010)